Uma das mais emblemáticas ferramentas de escolha para projetos de arquitetura e urbanismo no Brasil são os concursos. Sedimentados na cultura arquitetônica no país, estabelecem, por um lado, uma circunstância de estímulo, oportunidade e aquecimento, tanto da prática, quanto do debate de ideias – condição importante para a reafirmação de um sentido democrático e horizontal para as escolhas de propostas vencedoras. Por outro, são alvo de debate acalorado pela forma como têm se desenvolvido, pelos métodos de avaliação e, sobretudo, por premiarem propostas que, frequentemente, reiteram um tipo de arquitetura ligada a um vocabulário formal moderno, negligenciando prostas que buscam algum tipo de renovação do ideário formal.
O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) vem, nos últimos anos, abrindo a pauta dos concursos a uma ampla discussão dentro da categoria profissional. No IAB de São Paulo, por exemplo, a forma como os editais são recebidos por aqueles engajados na participação das concorrências, a própria pertinência de uma demanda altamente detalhada e minuciosa nesse contexto de projeto, as composições de júri que avaliam as propostas, seu afastamento ou aproximação da crítica e os caminhos para o reconhecimento com as premiações a partir dessas questões, foram objeto de reflexão em debates públicos em 2018. Hoje, em um contexto de acirramento das dificuldades no cenário pandêmico, o mesmo IABsp promove uma pesquisa para abrir escuta aos profissionais quanto ao interesse e perfil dos participantes de concursos públicos no país nesse momento, revelando que, mesmo em um estado de incerteza e crise, os concursos seguem sendo objeto de importância e afinco para as cabeças norteadoras da ética e valores da profissão.
Outro senão, sinalizado em alguns artigos e discussões a respeito do tema, é o fato de que, por vezes, as obras não são construídas segundo as definições das propostas premiadas, mas com distorções e alterações que demonstram certa ineficácia dos concursos enquanto agenciadores da arquitetura como consolidação de um discurso cultural. Esse debate está ligado também à compreensão do que se reconhece publicamente enquanto arquitetura, e da tomada material de obras construídas na própria definição de arquitetura e urbanismo. Em seu texto "A eficácia dos concursos públicos de arquitetura organizados pelo IAB-MG", o arquiteto Joel Campolina refere-se à questão da eficácia de forma explícita:
Assumimos que um concurso seria considerado eficaz se, no mínimo, resultasse na contratação do arquiteto vencedor para a elaboração completa e detalhada dos projetos executivos decorrentes, coordenação dos projetos complementares de engenharia e supervisão do processo da obra quando construída.
Apesar disso, parece existir um certo grau de conformidade entre arquitetas e arquitetos sobre a importância da existência e manutenção dos concursos. Mantendo em pauta as boas formas de encaminhar e premiar nesses contextos, seus defensores reiteram que as concorrências servem ao bom desenvolvimento e debate de propostas, à ampliação do acesso ao trabalho e à continuidade no encaminhamento democrático da crítica e produção. A partir dessas ponderações, apresentamos uma seleção de projetos que são resultados de concursos públicos e privados, de modalidade aberta e fechada, construídos no país. Esse conjunto cria uma pequena amostra das possibilidades de exploração plástica, programática e de escala promovidas no contexto das concorrências nacionais.
Instituto Moreira Salles / Andrade Morettin Arquitetos Associados
Centro Cultural ADUnB / Nonato Veloso
Tribunal Regional do Trabalho / Corsi Hirano Arquitetos + R. Nishimura
Confederação Nacional dos Municípios / Mira arquitetos
CENPES II / Siegbert Zanettini
Sede do SEBRAE / gruposp + Luciano Margotto
Pavilhão do Brasil / Studio Arthur Casas + Atelier Marko Brajovic
Escola Novo Mangue / O Norte – Oficina de Criação
Escola de Ensino Médio SESC Barra / Indio da Costa Arquitetura
Nova sede da comunidade Shalom / Brasil Arquitetura
NASP- Sede Natura São Paulo / Dal Pian Arquitetos Associados
Sesc Guarulhos / Dal Pian Arquitetos
Referências bibliográficas
VOLKMER, José Albano. Concursos públicos de Arquitetura. Boletim Informativo, Porto Alegre, Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul, jun. 2003. In: SUZUKI, Eduardo H.; PADOVANO, Bruno Roberto; GUAHANHIM, Sidnei Junior. A eficácia dos concursos nacionais de arquitetura e urbanismo no Brasil de 1984 a 2012. Arquitextos, São Paulo, ano 19, jun. 2018.